domingo, 24 de outubro de 2010

31º Dia (08/09/10) - Huayna Potosí

Huayna Potosí - La Cumbre

Meia noite: hora de levantar. Com -8ºC de temperatura, nos preparamos e saímos rumo ao cume, com muita vontade de atingí-lo mas sem a pretensão de conseguir chegar lá facilmente. A ideia era essa: íamos tentar, caso um de nós dois se sentisse mal e quisesse voltar o outro poderia continuar. Caso nenhum de nós conseguisse chegar lá, tudo bem também. Faríamos até onde fosse possível.

Eu estava com calça fleece, calça normal, calça impermeável, blusa underwear, underwear térmica, polar, 2 jaquetas impermeáveis (minha e da agência), 2 meias, 2 luvas, gorro, touca da jaqueta, cachecol, botina, polaina, crampones, cadeirinha para corda, piolet, lanterna de cabeça e só (rs). Na mochila o kit sobrevivência: chocolates, barras de cereal, água, protetor solar e labial.

O trajeto é todo feito com as cordas unidas entre os integrantes, de maneira que um possa fazer a segurança do outro. Escuridão total, iniciamos a árdua jornada. Estávamos a 5.300 m de altitude e em alguns minutos (ou seriam horas?) escutamos um estrondo e barulho parecido com o de rochas rolando. Como estava absolutamente escuro e não víamos um palmo à frente sem a lanterna, eu e Du olhamos um pra cara do outro com uma interrogação na cabeça mas continuamos. Logo a seguir o forte barulho novamente. Não aguentei: "Que barulho é esse?". A resposta do guia com a maior tranquilidade? "É uma avalanche". Ahhhhh mas que ótimo, aí sim eu fiquei super sossegada. Imagina... era 'só' uma avalanche ali pertinho (seriam metros?) de onde estávamos. Sem muita opção e com a confiança no guia seguimos.
Após muito, mas muito esforço físico e mental paramos para um breve descanso. Os trechos eram muito puxados: subidas íngremes, abismos para pular, montanha que não acabava mais. Avistamos La Paz.


Várias paradas para restabelecer as forças. Numa dessas fui tomar água e percebi que estava congelada. Fui comer chocolate e ele tinha virado pedra. Continuamos. Reunía todas as minhas forças e continuava a jornada. Cansaço extremo. Muita força física, nunca tinha passado por uma prova de resistência como essa. A respiração era ofegante, o ar não era suficiente, suspirava de esgotamento e me jogava no gelo para descansar.


A palavra é 'superação'. Os últimos 100 metros foram impossíveis. Sem forças, sem músculos, mas ainda com o desejo de conseguir chegar a 'la playa' - como dizia nosso guia.

Juntamos os cacos de energia e subimos. Na chegada ao cume às 6h45min fomos brindados com um belíssimo nascer do sol. Gritos de alegria. Um abraço apertado dos primos pela vitória. Nós conseguimos. Estávamos lá. Como poucos conseguem. Superamos. Nos desafiamos. E sim, conseguimos. Missão cumprida. Realização indescritível.


Aquele visual eu nunca vou esquecer... a primeira montanha a gente nunca esquece! hehe. Ficamos lá em cima por cerca de 20 minutos... 20 minutos fantásticos. Vimos o Titicaca, La Paz e até o Illimani à nossa altura. Estávamos à 6.088 metros de altitude, exaustos e eufóricos. Uma conquista memorável. Muito felizes.


A descida é fabulosa, mas tão cansativa quanto a subida. Os joelhos sofreram um bocado, mas só descendo (com a luz do dia) pra ter noção do quanto subimos e da profundidade dos abismos que pulamos de madrugada. Muito gelo, muita neve. Fui passar protetor solar e estava congelado. Foram aproximadamente 5h15min de subida. De descida: 2h até o 2º refúgio mais 2h30min até o 1º refúgio. A cholita nos esperava no refúgio lá em cima pra descer com a mochila. As paisagens eram maravilhosas: gelos azuis, neve prateada, cristais, estalactites nas grutas e ondas formavam belíssimas esculturas naturais.


Na caminhada cansaço, escorregões, tombos e risos. Bolas de neve voando pra lá e pra cá numa guerra divertida. Chegamos no 1º refúgio sob os olhares curiosos de 2 irlandeses e 1 espanhol. Acho que não os assustamos tanto quanto os alemães nos assustaram. Apesar de cansados, chegamos conversando e muito bem, obrigada. Nada desesperador como imaginávamos. Cansativo sim, muito, mas nada anormal. Almoçamos uma sopinha porque não havia muito estômago pra outras coisas. Devolvemos os equipamentos e voltamos à La Paz.


Do jeito que chegamos nos jogamos na cama e dormimos. Depois do banho, fizemos um lanchinho no Banaís (mais uma vez, rs) e pegamos uma pizza romana na Pizzaria Italiana, calle Illampu, levamos para o hotel, comemos e afundamos na cama. Sono profundo... que beleza!

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