domingo, 24 de outubro de 2010

23º Dia (31/08/10) - Trilha Inca

3º dia da Trilha Inca... Pólo Norte

A noite não foi tão fria quanto molhada. Choveu muito durante boa parte da noite e acordei com água por todos os lados dentro da barraca. Como não havia muito o que fazer, esperei o despertar dos porters às 6h com chá e chuva. Mochilas, roupas, sleepingbag e até máquina fotográfica molhados. As botinas estavam com uns 2 cm de água dentro. Ok. Colocamos as roupas molhadas mesmo, capa de chuva e fomos desayunar. Fazia frio. A saída foi brindada com uma árdua subida até os 3.900 m de altitude.

Esse dia foi de incrível superação física e emocional.

Ruínas incas, chuva e frio. Até a chegada ao local do almoço nenhuma foto, poucos sorrisos e muito esforço físico. Com a neblina e a chuva dominando a paisagem não pudemos ver muita coisa. Estávamos bem à frente de uma parte do grupo que andava muito mais devagar. Numa pequena gruta o guia pediu que esperássemos todos. Assim fizemos. Porém o frio estava tão intenso e nós tão molhados que foi desesperador ficar lá, parados, congelando. Uns 20 minutos depois saímos, todos já nervosos porque não havia condições de ficar parado àquela altura. Quase viramos picolé.

A chegada para o almoço foi um mix de alívio e frustração. Alívio por poder tirar um pouco a capa de chuva e se esconder dos pingos na cara dentro da tenda; frustração porque com todas as roupas molhadas e cerca de 5ºC de temperatura, nada fazia os pés, mãos e pernas descongelarem. Eu estava imóvel para que a roupa molhada não ficasse gelando ainda mais o corpo. O enlouquecedor é que você não tem como ir ou voltar, está longe de tudo e não há outra opção: tem que percorrer o caminho naquelas condições mesmo. A espera pelo almoço foi uma agonia, demorou porque naquela chuva toda até os porters conseguirem se organizar também levou um tempo. Eu não me mexia, não sentia meus pés, tentava a todo custo esquentar meus dedos e também não falava porque naquela situação fiquei com muito medo de ficar doente, o frio era absurdo.

A chegada da sopa foi aplaudida e após a refeição a grande tormenta pegou. Ir ao banheiro absolutamente encharcada e morrendo de frio tornou-se missão demasiado complexa. Mas fui. O corpo tremia tanto que eu não podia conter o medo de uma hipotermia. A saída para as 4 horas seguintes foi desesperadora. Eu sentia tanto frio, que a aflição física se somou à emocional. Meus olhos se encheram de lágrimas e ao mesmo tempo que eu agradecia por estar vivenciando aquele momento de absoluta superação, eu queria muito me livrar daquilo o mais rápido possível. Baixei a cabeça e segui os passos do meu primo. Por instinto de sobrevivência me concentrei no caminho e em aquecer meu corpo. Nenhuma foto, nenhuma paisagem, nada. Só a urgente necessidade de sentir que estava me movimentando para fazer meu sangue circular e talvez sentir um pouco menos frio. Após 1h30min +/- já podia sorrir um pouco. Ainda com frio, mas o sangue corria pelo corpo.


Gradas (escadas) intermináveis nos faziam descer e descer a montanha. Ruínas e a chuva deu uma trégua. O tempo abriu um pouco e a câmera fotográfica voltou à ativa. O resto da tarde foi marcado por veados, beija-flores, exuberante flora com bromélias, orquídeas e begônias. Nos afastamos do grupo (que cantava loucamente) para curtir o caminho. Pássaros zelavam nossa passada, nos incentivando com seus cantos maravilhosos. Esse momento foi uma delícia. Só nossos passos e o canto dos pássaros. Revigorante depois da tormenta.


Próximo ao acampamento a flora deu seu show... orquídeas e muitas outras flores fizeram a recepção. Até a 'flor de um dia' (segunda foto) que, segundo nosso guia Juan, floresce e dura tão e somente 1 dia.


Chegamos no acampamento e, como sempre, as barracas prontas e melhor amarradas para a chuva. "Esperamos que ela não venha". Nessa terceira noite havia a possibilidade de tomar banho quente. Não pensamos duas vezes e corremos com nossas toalhas e roupas secas. Um alívio.

A janta foi um absurdo de boa. Excelente e acho que bem merecida após o dia de sufoco de hoje. Na sequência uma também merecida homenagem aos porters. Chuvisco. Corremos para a barraca. Muitos espirros, tosse e sono. "Que amanhã seja um dia bom".

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