quarta-feira, 2 de março de 2011

Mochilão Patagônia Argentina

A viagem pra Patagônia Argentina teve início antes mesmo do meu mochilão pro Peru, Bolívia e Chile em agosto/10. Quando estava às vesperas do mochilão surtei e resolvi comprar as passagens pra passar um ano novo diferente: escolhi Ushuaia.

Fuçando um pouquinho me deparei com o glaciar Perito Moreno e decidi que não poderia deixar de conhecê-lo já que estaria relativamente perto. Como meu período livre seria curto, programei uma viagem de 1 semana (ainda sem saber que tudo mudaria depois), então acabei comprando todos os trechos (inclusive os deslocamentos na Argentina) de avião. Ficou caro, mas tinha uma questão tempo nessa história. Bom, resumindo tudo, muita coisa mudou na minha vida no final de 2010 e então a viagem de 6 ou 7 dias, transformou-se numa de 16 dias (sabe que já vi essa história?? rs), com saída dia 26/12/10 e retorno 11/01/11. Até meu amigo Roni resolveu ir junto, tirou férias num período praticamente proibido pra quem trabalha com turismo (final de ano) e botou a mochila nas costas também. Parceiro do mochilão: Roni de Andrade = ser medonho das trevas (apelido carinhoso).

Os acontecimentos foram vários e tiveram início dias antes de eu embarcar. Resumi:

Dia 23/12/10
A viagem nem começou e eu já me deparei com a primeira surpresa: o aeroporto do voo para El Calafate é o aeroparque (para voos domésticos), não o Ezeiza (para voos internacionais). Ufa! Ainda bem que resolvi checar, senão ia perder tempo, 200 pesos e o pior: o voo.
Confirmei as passagens e tudo ok (até então).

Dia 24/12/10
11 horas da manhã e minha querida Diana me liga com a notícia: "o voo foi cancelado". Surtei. Como assim? Meu trecho era Cidade de Leste > escala rápida em Assunção > Buenos Aires. A TAM simplesmente cancelou o voo CDE>ASU do dia 26 e me jogou pro dia 25, portanto NATAL! Ou seja, uma simples escala em Assunção se transformaria em um dia inteiro lá, passando a noite inclusive. Putz, mas justo no Natal? Fiquei mega-super-power-ultra estressada pois é o único dia que conseguimos reunir a família toda. Sem opção, acatei, afinal se adiasse a viagem teria que remarcar todos os outros voos, perderia hospedagens já pagas e ainda por cima só teria 2 dias pra aproveitar El Calafate. Traduzindo: sem opção. Pelo menos consegui jantar com o pessoal dia 24/12 e dar um amasso gostoso na minha afilhada... E foi o que fiz.

1º Dia (25/12/10) - Cidade do Leste > Assunção

Destino: Assunção

Pulei cedo da cama e de Marechal saí com destino à Foz. Chegamos (eu e meu pai) às 11h e corri pra arrumar minha mochila - tudo correndo já que a previsão inicial era de 1 dia a mais pra organizar tudo... enfim, junta daqui, arruma dali... Almoço correndo, banho e 14h saí com destino à fronteira. Imigración feita peguei um taxi que me engoliu 60 reais pra deixar no aeropuerto Guarani (humpf, poderia ter pago menos se não fosse feriado de Natal).

Já no check in perguntei como ficaria a hospedagem na capital paraguaia, já que eu não deveria ter essa despesa, a atendente muito solícita sumiu por uns 20 minutos e voltou com a confirmação da reserva do hotel. Ufa! Pelo menos isso. Fiquei no aeroporto desértico, sem água pra beber e nada (nada: leia-se a única lanchonete) aberto. O voo atrasou uns 20 min. e na chegada em Assunção me dirigi ao guichê onde fui prontamente atendida e o motorista me levou até o hotel reservado: um 5 estrelas! Super hotel, bela suíte com direito a grande sacada e tudo mais. Uau.


Aí imagina eu chegando de mochilão e botina, toda descabelada num hotel very xiqui... queria cavar um buraco... mas tratei logo de aproveitar o tempo e o espaço, já que era Natal e eu estava ali mesmo.
Dei até uma gargalhada quando o mensageiro saiu após deixar minha mochila no apartamento. Saí pra explorar um pouco a cidade e fui até a 'Plaza de La Libertad', rio Paraguai e Palácio do Governo. A polícia local me avisou que era perigoso e eu não deveria ficar 'dando sopa' por lá. Tratei de guardar a máquina fotográfica e então a policial me acompanhou um bom trecho. Voltando ao hotel comprei uns snacks no posto e bem em frente ao hotel Excelsior tinha um shopping, fui passear lá mesmo estando com as lojas fechadas. Voltei pro hotel, tomei um super banho maravilhoso e fui fazer inveja pra família: liguei e contei sobre a hospedagem.

 
 

Desci pra jantar no Il Pagliaccio e comi o pior nhoque da minha vida: nunca, nunca peça isso lá. Tava uma pasta meio grudenta e com gosto estranho. Pra terminar de vez com o apetite uma 'cucaracha' aparece pra me fazer companhia. Chamei o garçom que saiu batendo na mesa, derrubou talher, guardanapos... a barata veio pro meu lado e ele quase pulou na minha cabeça pra matá-la. Finalmente a convidada foi eliminada. Como cortesia me ofereceu um "regalo por la Navidad": salada de frutas com sorvete.

Pós janta fui pro cinema do shopping, assisti Megamente junto com meia dúzia de crianças... rsrs. Não lembro bem de algumas partes do filme porque simplesmente capotei de sono no cine...

No hotel me estiquei o máximo possível na cama e dormi um sono merecido.

2º Dia (26/12/10) - Assunção > Buenos Aires

Destino: Buenos Aires

Acordei descansadíssima e desci pro café. Sucos, frutas, pães e bolos encheram meu pequenino estômago de elefante e voltei à catedral e praças por indicação da atenciosa recepcionista. O comentário “chato foi que ontem estava tudo fechado porque era Natal e hoje está fechado também porque é domingo!” Não pude aproveitar os museus que queria.


Voltei ao hotel e fui curtir a piscina com meu A Sombra do Vento. Banho e fui pro almoço no restaurante da piscina: parrilhada. O garçom falou sobre o prato: “carne com arroz, batata, salada”. “Ótimo” respondi, mas na verdade era pra eu escolher se queria arroz OU batata OU salada. Hauhauahua. Ainda consegui negociar com ele e pedi duas das três opções. Mas pensa numa carne gigante no meu prato: sem medo de errar tinha umas 500 g de carne naquilo. Devorei o ‘meio boi’ com salada e arroz. Enquanto isso um grupo de gregos se divertia ao som e dança da apresentação cultural que enchia o espaço de alegria. 
 

Subi correndo pra otimizar os 5 minutos que me restavam e fiz um vídeo pra registrar minha estadia. Na recepção o motorista já me esperava, o mensageiro pegou minha mochila e fiz o check out com ‘janta, pernoite, café, almoço e ligação pra casa’ ao custo de R$0,00. Oba!

No aeroporto tive o feliz e nostálgico encontro com as poltronas (na verdade era um banco duro) onde eu e meu primo dormimos no retorno do mochilão BOL-PER-CHI. Ri por dentro. O voo atrasou 1h30mi, então dá-lhe leitura. O trecho até Buenos Aires foi tranqüilo e ao desembarcar no Aeroporto Ezeiza (voos internacionais chegam lá) saí rapidinho pois lembrei da última vez o caos que foi a imigração. Procurei o guichê Manuel Tienda León e por 45 pesos um ônibus me levou até o terminal em Puerto Madero. Serviço muito bom, economizei uma grana considerável do taxi, aprovado. Chegando lá por mais 5 pesos um taxi coletivo me deixou na porta do hostel Che Lagarto.

Lá havia reservado um quarto feminino para 8 pessoas. Feito o check in a moça me indicou a porta das escadas. Tentei abrir, nada. Outra vez, nada. Com mais força, nada. Quase quebrei a porta até que veio um cara correndo me dizer que aquele era o elevador. A porta das escadas era a do lado. Quase enfiei minha cabeça dentro da mochila e subi correndo as escadas.

Ao entrar no quarto algumas meninas já vieram falando comigo em inglês. Logo pensei: que ótimo, um quarto cheio de estrangeiras. 2 minutos depois escuto elas conversando em português... ?? Olhei com cara de interrogação: “Vocês são brasileiras?” Todas morremos de rir... e elas pensando que a estrangeira era eu.
Aliás, brasileiros por todos os lados naquele hostel e uma Buenos Aires infernalmente quente. Me alojei, tomei banho, bati altos papos e resolvi procurar algo para comer, aí a surpresa: nada para comer no hostel e a pizzaria da outra quadra estava fechada. Frustrada e conformada em jantar umas barrinhas de cereal, fiquei na recepção e conheci uma galera de Fortaleza que estava indo jantar num lugar a umas 8 ou 10 quadras. Beleza. Pizza, empanadas e suco de pomelo (horrível, eca) no La Continental por 20 pesos. Os cearenses uns figuraças, quase morri de rir. Detalhe importante: não espere encontrar água ou sucos baratos em Buenos Aires. Não. É mais barato tomar uma cerveja do que uma água. Nada baixa muito de 15 pesos (cerca de R$ 7,50), prepare o bolso!!

Volta pro hostel à 1h da manhã: cama!

3º Dia (27/12/10) - Buenos Aires > El Calafate

Buenos Aires: Calle Florida

Mas pensa numa noite ruim... Affffff... Calor grudento + mosquitos = rola pra lá... rola pra cá... terrível. O quarto só tinha um mísero ventilador que estava virado pro outro lado e eu estava na beliche em cima: sem chance alguma de vento. Buenos Aires não deveu nada pra Foz do Iguaçu (a qual costumamos chamar de Forno do Iguaçu) com seus 40ºC. Portanto fica a dica: se você for à Buenos no verão e quiser dormir à noite, procure um lugar com ar condicionado ou pelo menos com um ventilador que você possa colocar bem na sua cara. 

Pela manhã me joguei no chuveiro, café e fui pra calle Florida: o reduto de compras. Um mundo de gente (80% brasileiros) enchia aquelas ruas e lojas. Comprei uns regalos e meu segundo livro em espanhol. Como o tempo era curto não pude ver muchas cosas, engoli um lanche e voltei correndo pro hostel juntar minhas coisas. Na saída uma israelense me disse que estava indo para Iguazu, desejei ótima viagem e espero sinceramente que ela seja bem atendida.


Check out feito, ainda tentei comprar uma água no hostel. Sem chance, lá só tinha bebidas alcoólicas e cerveja...  Peguei um taxi com um gentilíssimo argentino e até me surpreendi com meu espanhol na conversa que se desenrolou no trecho até o aeroparque (viagens domésticas são feitas nesse aeroporto). Fã do Lula, o taxista me contou que ficou 1 semana mal por causa da morte de Nestor Kirshner. No caminho o velho conhecido Obelisco...

No aeroporto aproveitei o tempo pra colocar em dia meu diário.

Aí espera, espera, espera... chamaram o voo. O bus nos levou até o avião mas ficamos cozinhando do lado de fora e depois de 10 minutos com o sol a pino nas nossas cabeças, nos avisaram que aquele não era nosso avião. Bahhh... Volta pro bus e sai à caça do avião certo. Bah, e quem disse que aeroporto não é vucu vucu...


Pronto. Achei curiosa a diferença entre a equipe de bordo da Aerolineas Argentinas com a da Tam, por exemplo: lá são todos mais velhos (tipow + de 40 anos), sem maquiagem, com o cabelo do jeito que eu não chamaria de ‘arrumado’ e a simpatia deixada em casa. Mas enfim, só pra piorar o voo foi cansativo: nada pra ver, pra ouvir, pra fazer, pra ler (acabei despachando o livro)... Ufa, chegamos numa aterrissagem meio assustadora. Dos 40ºC tenebrosos de Buenos pros 16ºC de El Calafate. Na chegada ao hostel Marcopolo Inn o ‘ser medonho das trevas’, vulgo Roni me esperava.



Aí as bandeirinhas que tinha comprado em La Paz e que acabei perdendo ao longo desse mochilão. Ficou a fotografia.

Papos e papos pra colocar as novidades em dia. No quarto dois israelenses e dois ingleses. 22h e ainda tinha sol. Saímos pra jantar no Lechuza: lasanha e água por 65 pesos. Meia noite voltamos pro hostel, banho e merecida cama. Todos os lugares tem calefação, lá dá pra dormir de shorts e regata, e assim foi.

4º Dia (28/12/10) – El Calafate: Perito Moreno

Perito Moreno... o grande e belíssimo glaciar

Pulamos da cama, café e descemos pro centro pra definir os passeios dos próximos dias. Sem tempo de fechar a programação, compramos nossa ‘vianda’ (marmita): sanduíche, água e frutas por 13 pesos no mercado La Anonima. Obs. Não há sacolas plásticas. Ótimo! Mochila nas costas e pegamos o bus.



 A 70 km está o glaciar Perito Moreno e a primeira vista não esquecerei nunca mais. Uma imensidão de gelo por todo lado.


Fizemos a caminhada por conta própria: passeio inferior e superior. A visão do glaciar é maravilhosa. Ver e ouvir os blocos de gelo se desprendendo é fantástico. Almoçamos num banco por lá mesmo.







 É realmente impressionante ver aquele mundo de gelo bem à sua frente, com montanhas nevadas ao fundo. “Inspirador”, foram as palavras do Roni.





Teve até foto 3D...


Às 14h30min subimos pra encontrar o grupo e fomos em direção ao Q.G. da empresa Hielo y Aventura para pegar o barco com destino ao minitrekking que havíamos contratado. No barco passamos em frente ao lado sul do glaciar, mil fotos pra registrar o passeio. E o Roni com as suas filmagens que viraram belíssimas recordações...







Descemos e por lá há um lugar para deixar as mochilas ou pertences mais pesados. Um trecho pela mata até as tendas para colocar os grampones. Iniciamos o minitrekking e felizes da vida fizemos o percurso sendo chamados algumas vezes pelo guia para acompanhar o grupo, já que tínhamos optado por ficar atrás e sacar muchas fotos.





Lindas fendas azuis, águas correntes e um cobertor de gelo formavam a paisagem. Muito show. O final do minitrekking é feito com um brinde de whisky e gelo in natura.








 


O retorno é feito pela mata, num trecho mais longo e ainda mais lindo.

 
De volta ao barco não podíamos deixar a bandeira argentina ficar tremulando ali livre, leve e solta né... a eterna rivalidade BRA-ARG... rs.



 A volta para El Calafate eu nem vi, capotei de sono no bus. Na chegada nos apressamos em fechar a programação: sem possibilidade de ir à Torres Del Paine (bus lotados), optamos pelos próximos 3 dias em El Chalten – capital nacional do trekking. Dica: apenas 2 empresas fazem esse trecho: ChaltenTravel e Caltur. Nas agências no centrinho não conseguimos mais vaga para o horário que precisávamos, então corremos até a rodoviária e lá nas mesmas empresas conseguimos! Hein? É, é isso... Vai entender... mas valeu a corrida. Ficou assim: transporte ida e volta e 2 noites de hospedagem por 250 pesos. Beleza.

Tudo resolvido, nos concedemos um excesso: matar a vontade da lombriga de comer comida japonesa. 
Apreciamos um delicioso sashimi de salmão e de lagostin e um temaki de truta no SushiBar de Calafate. 



Bom, já tínhamos força suficiente para subir de volta e chegar ao Don Pichón, um maravilhoso restaurante com uma vista espetacular da cidade. Por indicação do agradável garçon Nicolas, pedi um Cordero Patagonico ao molho de calafate. Roni foi de Bife de Chorizo Don Pichón. Tudo muito delicioso! 



Estávamos exaustos (acho que minha cara já denunciou), de pança cheia e já era passada meia noite quando fomos ao hostel mimir. Rooooonc...

A panorâmica do Glaciar (mérito do Roni):